sábado, 17 de abril de 2010

NÓS e o RIO
Estórias de Cá e de Lá
Luis Santos


1ª Edição (e-book): Casa de Estudos de Alhos Vedros
Fevereiro, 2006


a Alhos Vedros,
à Língua Portuguesa,
ao Mundo.

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ÍNDICE

Introdução

1ª Parte -
Estórias daqui contadas por lá

1. O Hospital
2. A Capela da Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros
3. A Feira do Livro
4. Aqui, ao pé do Rio
5. Fazer um Jardim em Alhos Vedros (ou Fazer de Alhos Vedros um Jardim)
6. Redacção: A Primavera
7. Festejos
8. Um Parque de Jogos
9. Parabéns…
10. Para quando o Museu?
11. Roteiro, a bola do Euro 2004
12. O Ensino Superior Público no Distrito de Setúbal
13. Exporadicamente
14. Exercício de Cidadania
15. Coisas do Mundo

2ª Parte -
Estórias de lá contadas aqui

1. D. Dinis
2. D. João I, o Mestre de Avis
3. O Infante D. Henrique
4. Agostinho da Silva
5. Carta para um Amigo que nunca vi
6. Portugal
7. Caravela.com
8. A CPLP dos Pequeninos
9. Carta aos amigos
10. O Estandarte da Paz
11. Ás voltas com a Língua
12. Pelo Alentejo até Olivença
13. “É Natal, é Natal, viva a Terra em Paz…”
14. Musidanças IV
15. Escola Aberta Agostinho da Silva

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INTRODUÇÃO

Este livrinho é, na sua maior parte, o resultado de um conjunto de textos que foram publicados no jornal “O Rio”, sob a direcção de Mestre Brito Apolónia, e no qual eu próprio integrei o Conselho Redactorial, embora apenas durante uns escassos seis meses. O tempo suficiente, porém, para ficar com um cheirinho do que é fazer um jornal, tendo-se traduzido numa experiência bastante enriquecedora. Até pelo prazer de ter estado juntos nessa aventura com o amigo António Tapadinhas.

Todos os textos aqui apresentados, à excepção de um ou outro, foram produzidos entre Outubro de 2003 e Setembro de 2005. São o caso, por exemplo, dos dois poemas que iniciam as duas partes do livro, cuja escolha se deve, sobretudo, a razões de ordem estética. Existem muitos textos escritos antes desse mês de 2003 que também teria interesse apresentá-los aqui, mas que para já, por razões de indisponibilidade pessoal, não integrarão o livrinho. Ficará, suponho, para uma próxima oportunidade.

O livro tem duas partes distintas. A primeira, Estórias daqui contadas por lá, constitui-se por textos que foram escritos a pensar no lugar em que vivo, Alhos Vedros, e nalguns casos na região circundante, com particular destaque para o Concelho da Moita. São textos que constituem reflexões sobre algumas reconhecidas carências locais, ao nível de certas infra-estruturas, e que, neste sentido, não passam de um mero dever de participação cívica, ou se quisermos, nalgumas simbólicas ideias que podem ajudar o poder autárquico a cumprir o seu dever.

A segunda parte, Estórias de lá contadas aqui, é constituída por textos de âmbito mais alargado, concretamente por reflexões feitas sobre o tema da Lusofonia e, portanto, sobretudo dirigido ao mundo que fala a Língua Portuguesa, ou seja, aos países, aos governos e às comunidades espalhados pelo mundo que quis o destino herdassem estes verbos próprios para comunicarem.

Aqui o local e o mundo se entrelaçam, globalizando-se o local e onde o global se localiza, e dão expressão a uma forma de pensamento que não é mais do que a necessidade de alimentação da nossa alma conjunta, sempre com a Língua Portuguesa no epicentro desta espiral em forma de livro. Estando conscientes, porém, que nós não existimos sem os outros, e a quem todo o respeito é devido, mas sentindo necessidade de afirmar o que somos e o que é nosso, ponto de partida para uma conversa que se quer duradoira e fraterna, onde seja possível todos viverem em paz, com satisfação de corpo e de espírito, e numa transcendental dimensão de vida que conjuntamente teremos de conquistar.


1ª PARTE -
ESTÓRIAS DAQUI CONTADAS POR LÁ


Terra Velha

Fazes? Sim?
Faz um jardim p’ra mim.

Não me deixes assim crescer
em cimentos aos molhos, descorados
entre as águas dos meus olhos, magoados
Não me sentes entristecer?
Faz-me, sim?
Faz um jardim p’ra mim,

Ao pé do rio,
e deixa-me sentar no jardim
com tempo para sonhar,
para brincar ao pião.
Pode ser assim um jardim
do rio até à serra
e desenha-me com caminhos de terra,
que em cimento não,
Faz-me, sim?
Faz um jardim por mim.

E molhada pelo rio que vou sendo
até ao vulto da serra que vou vendo,
há-de vir ainda um dia,
que não só na poesia,
Farei, eu mesma, um jardim de mim.
E tu ajudas-me, sim?...


1.
O Hospital

Um dia destes apanhei uma amigdalite. Febre, fortes dores por todo o corpo e até dificuldade em andar. Passados dois dias quase inteiros de cama sem que as melhoras aparecessem decidi-me a ir ao Hospital.

É nestas alturas que melhor percebemos o bem que é ter alguém a quem recorrer para nos ajudar no mau estar. É nestas alturas que damos o real significado ao facto de termos, por exemplo, um Hospital.

O nosso Hospital, bem sabemos todos, está a cair de vélhinho e até cheira mal. É muito triste ver assim apodrecer um lugar onde já tantas vezes procurámos, e encontrámos, apoio.

Existe um grupo de cidadãos do Concelho, a Comissão de Utentes do Hospital, que tem tentado remar contra a maré e evitar que ele “caia” de uma vez por todas. A todos eles devemos agradecimentos. Mas é preciso que haja a coragem e a força que, para lá do Governo, do Ministério da Saúde e da Direcção Regional de Setúbal, se comece com a reconstrução, antes que seja tarde. É preciso começar a pintar, a estucar, a pôr azulejo e mosaico, que o resto virá por acréscimo. O dinheiro seja com rifas, seja com peditório, há-de arranjar-se, assim haja vontade. Até porque a Câmara Municipal está disposta a ajudar, não está?


Lá se foi o Hospital...

Lá se foi o Hospital Concelhio de Alhos Vedros, creio que definitivamente, e com ele o Serviço de Atendimento Permanente (24 horas por dia). Agora é só das 10h às 22h e, se acaso, adoecer fora do horário estabelecido procure assistência noutro lado, porque aqui acabou-se!

Toda a gente está contra: o poder autárquico, a Santa Casa da Misericórdia, a Comissão de Utentes, a população, eu próprio, e até a Administração Regional de Saúde tem pena, mas a decisão a todos ultrapassa.

Uma coisa é certa, Alhos Vedros está mais pobre. E se já escasseavam os equipamentos culturais e desportivos públicos, agora a desertificação alargou-se à saúde. Cada um que tire as suas conclusões. Nós e os nossos filhos merecemos mais e melhor.


2.
A Capela da Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros

Depois de ter escrito sobre o Hospital Concelhio de Alhos Vedros e de lembrar da necessidade de recuperação do interior do edifício e da reactualização dos serviços, tenho ainda esperança que algum dos responsáveis da Direcção Regional de Setúbal do Ministério da Saúde, ou até mesmo o Senhor João de Almeida, Presidente da Câmara Municipal da Moita, tome uma posição pública sobre o assunto.

Em relação à Santa Casa da Misericórdia de Alhos Vedros gostaria de dizer do agrado que me provocou a obra de restauração que tem vindo a ser feita na entrada da Capela da dita Santa Casa. A recordar, havia alguém menos sensível a estas coisas da cultura e do património, quando do alcatroamento da estrada que lhe passa defronte, despejando alcatrão por todo o lugar, cobrindo então as velhas lajes da entrada da Capela. Só espero que se possa levar a obra até ao fim e recuperar por completo aquele belo espaço há tanto tempo abandonado.

Por falar da Capela de Alhos Vedros queria referir da necessidade que se sente na nossa vila de se construir um auditório, ou uma sala de espectáculos, ou qualquer coisa do género, porque depois de se ter permitido a destruição do antigo Cinema, e sendo Alhos Vedros a terra de maior dinâmica cultural do Concelho, sobretudo, a partir da riqueza de iniciativa demonstrada pelo seu movimento associativo, sente-se a falta de um espaço comum onde se possam organizar teatros, danças, músicas. Já revelaram as gentes de Alhos Vedros vontade e capacidade de organizar destas coisas.


3.
A Feira do Livro (1)

Acabou a 30ª Feira do Livro de Alhos Vedros. Cabem aqui, mais uma vez, os Parabéns a toda a direcção da Academia e restantes colaboradores, pela concretização de mais uma feira do livro, sem dúvida, um dos certames que, quer pela sua longevidade, quer pela sua importância cultural, maior importância tem no Concelho. A persistência desta direcção, a sua dedicação, a gratuitidade, a forma como consegue envolver todos anos um número significativo de crianças, a dinamização cultural, a quermesse, o bar, o arrumar e o desarrumar das bancas e, sobretudo, todo o trabalho invisível que é necessário para pôr de pé um evento desta natureza só podem merecer os maiores elogios.

Ficamos, no entanto, com a sensação de que esta Feira do Livro, acabada de fazer 30 anos e que dizem ser a terceira mais velha do país, logo a seguir à de Lisboa e à do Porto, poderia ganhar uma outra dimensão. O espaço da feira, o número de livros, a qualidade das bancas e a qualidade dos espectáculos, são exemplos de coisas que poderão ser melhoradas.

Neste sentido, deverá a Autarquia Municipal aumentar substancialmente os apoios, quer às infra-estruturas físicas da feira (bancas, iluminação, etc.), quer participando nos custos dos espectáculos patrocinando, por exemplo, uma noite de excepção que se torne o “cartaz da feira”, como dizia alguém neste jornal há um mês atrás.

Por outro lado, a direcção da Academia poderá tentar envolver na Comissão Organizadora outras pessoas que têm ajudado ao desenvolvimento do Concelho e que têm gosto por este tipo de eventos, e que a serem convidadas poderiam ajudar e muito a uma maior dignificação da Feira.

Então, poderíamos passar a dizer de uma forma mais convicta que temos no Concelho a terceira maior feira do país.


A Feira do Livro (2)

Acabou a Feira do Livro de Lisboa e vai começar a Feira do Livro de Alhos Vedros. O início está marcado para dia 1 de Julho. A grande novidade deste ano é termos a Feira no Jardim do Coreto, na Praça da República. Trata-se, sem dúvida, de um espaço muito mais condigno, do que o Largo do Mercado, junto ao Depósito da Água, onde tem decorrido nos últimos anos. Porque mais central, com maior visibilidade, mais acessível, melhor iluminação, mais frequentado. Esperemos que o amigo Leonel se tenha esmerado na Animação e que não tenham faltado apoios por parte das entidades de poder. Afinal, trata-se da 3ª Feira do Livro mais antiga do país, logo a seguir à de Lisboa e à do Porto. Se estiver enganado façam o favor de me corrigir o erro, porque senão irei continuar a apregoá-lo até ao fim da vida. Vou dizer mais uma vez: Tem o Concelho da Moita a terceira feira do livro mais antiga do país.

E já que estão reunidas óptimas condições para que a Feira do Livro ganhe uma maior dimensão do que, por mérito próprio, já tem, esperemos que seja possível, no horário em que ela decorre, fechar as estradas contíguas ao trânsito para que tudo possa decorrer com a qualidade desejada. É que há uns dias atrás tivemos oportunidade de ver tocar uma Banda Filarmónica na Praça da República, mas como não fecharam a estrada foi uma confusão pegada. A ala dos metais passou inesperadamente a contar com as buzinas dos automóveis, o barulho dos motores juntou-se ao rufar das percussões e a poeira das obras, acabadas há pouco, confundiam-se com os habituais fumos dos concertos rock. De modo que foi um filme engraçado de se ver, mas temos esperança que não se repita.

Uma pergunta, ainda, a propósito da organização da Feira do Livro. Para quando o reconhecimento público do trabalho desenvolvido pelo Leonel Coelho e pelo Manuel Figueira, em prole do desenvolvimento cultural da freguesia e do Concelho? Até se nem é preciso ter medo que ganhem as eleições. Digam lá ao Sr. Presidente (Jorge Sampaio) que nós também temos aqui na província pessoas de mérito que fazem parte de Portugal. Lá vai outra vez no 10 de Junho ser condecorado aquele que fala muito e depressa na televisão. Como é que ele se chama? Marcelo, Marcelo… bem já me falta o apelido, mas sei que não é Caetano.

Ontem, fui à Feira do Livro de Lisboa. Lá encontrei o amigo Manuel João, mais uma vez, como habitualmente tem acontecido. É a marca, mais do que de água, de Alhos Vedros, no mundo do Livro, na grande Feira. Ao lado dos livros, lá se erguem os enormes jacarandás, com as suas flores violetas cheias de luz, magníficas, esbeltas, numa delícia para a vista. E digo-vos, bem sei que não tenho jeito, mas se fosse eu um dia a mandar, era de jacarandás que enchia as ruas de Alhos Vedros. Muitos. Bem, talvez pusesse também uma olaias e a salpicasse com uns poemas…


4.
Aqui, ao pé do Rio

Um dos bens mais preciosos que foram construídos no Concelho da Moita, desde que a democracia nos permitiu o poder autárquico, foi o parque Ribeirinho José Afonso, na Baixa da Banheira. Até então, em termos de ordenamento urbano, a Baixa da Banheira pouco mais era que um caótico amontoado de prédios, feios.

A construção do Parque trouxe um ar de graça a todo aquele lugar envolvente. E depois, do parque até ao interior da vila, foram construídos mais duas grandes zonas verdes, de muito bom gosto: uma que se estende até ao antigo cinema, agora Centro Cultural José Figueiredo; e outra, mais a norte, que se estende até ao Lavradio. A gente passa por ali de carro, circundando todo o Parque, e aquele ar de graça faz-nos mais felizes. São coisas destas, sem dúvida, que aumentam a qualidade de vida das populações.

Também é verdade que grande parte dos prédios agora ali construídos continuam feios. Será dos arquitectos? Será por se gastar pouco e vender por muito? Porque será?


5.
Fazer um Jardim em Alhos Vedros
(ou fazer de Alhos Vedros um Jardim)?

Tenho um amigo que adora animais. Cavalos, cães, grandes e pequenos, gatos, aves de vários portes, e por aí fora. Um dia apanhou um pássaro do rio ferido. Um desses pássaros que passam connosco parte do ano, em viagens eternas de vai-vem, e que, com certeza, foi apanhada por uma chumbada de caçador.

Era uma gaivina: a parte superior das asas preta, todo o dorso branco, pernilonga e de bico estreito e comprido para melhor pescar na lama.

O meu amigo levou-a para casa, tratou-a, deu-lhe de comer, e quando viu que ela estava completamente restabelecida, achou que era chegada a hora de a devolver ao seu habitat natural. E convidou-me para tal empresa.

Foi um grande dia esse, o da libertação da gaivina. Tudo se passou nas marinhas defronte do Cais de Desmantelamento dos Barcos, em Alhos Vedros. Como eu trago bem gravado, desde então, o ar de agradecimento que a gaivina nos enviou, antes de virar numa esquina de salgadeira e voar para iniciar um renovado ciclo de vida.

Quanto ao “Cais Novo”, o cemitério dos barcos que temos em Alhos Vedros, assinala uma forte presença, ali mesmo junto ao rio, destoando de toda a área natural, ribeirinha, que o cerca. Uma zona de grande beleza natural e de lazer para todos nós que outrora ali íamos passear, pescar, tomar banho, ver os flamingos, as gaivinas, enfim, aproveitar algumas das boas oportunidades que a natureza nos proporciona. Disse bem, outrora...

Ainda tem o nosso Concelho, refira-se em bom tom, aqui mesmo em frente a Lisboa, um daqueles lugares naturais que constituem um bem escasso cada vez mais raros nos tempos que correm. Portanto, o mais óbvio, será irmos pensando, e depressa, na melhor maneira de proteger toda esta zona ribeirinha, devolvendo-a inteiramente ás populações, evitando a tempo alguns oportunismos menos convenientes que não destruam a beira rio, tantos são os maus exemplos que conhecemos.

Para mim a solução ideal para todo este lugar é simples: limpar, conservar e deixar estar. Quero dizer, prefiro que se deixe tudo o mais natural possível, embora criando algumas condições para uso das pessoas (como circuitos pedestres e de manutenção, praias fluviais, pesca e visitas de estudo ás gaivinas, entre outras) em substituição de algumas marinhas e viveiros de peixe, já completamente desactivados. Penso que seria melhor solução do que fazer um jardim e semear o resto com prédios como é tão de moda fazer-se. E é sabido que eu gosto muito de jardins, mas deixemo-los para lugares mais apropriados.

Mas se em Alhos Vedros a relação entre gentes e rio estava a ficar complicada, agora, meus amigos, acabaram de chegar os Melos. E num projecto urbanístico rodeado de muitos cuidados e algum mistério, falava o jornal “Público em mais 11.000 habitantes para Alhos Vedros, ali mesmo ao pé do rio. Já pode visitar o andar modelo.

Será que vão haver gaivinas que resistam?


6.
Redacção: A Primavera

No próximo dia 21 temos de volta a Primavera. É de novo tempo da terra florir e vestir-se de todas as cores, fantasias mil para os nossos olhos. Quem sabe, seja possível fazer uma pausa neste ritmo endiabrado da vida moderna e dar um salto até ao campo para melhor apreciar a dança da natureza.

O dia do início da Primavera é também o Dia Internacional da Floresta e da Árvore. Por isso é habitual, na nossa escola, assinalar-se este dia com o plantio de algumas árvores, entre outras actividades, que nos tentam trazer à lembrança de como é grande a importância na nossa vida desses misteriosos seres.

Claro que, entre essas actividades, sempre se faz uma chamada de atenção para as terras com grande crescimento urbano, que se situam próximas de grandes cidades, como é o caso de Alhos Vedros, porque são zonas que nos últimos anos têm vindo a perder grande parte da sua mancha florestal. É uma forma, creio, de manter acesa a esperança no futuro.

Aliás, deve dizer-se que, ultimamente, têm até desaparecido muitas das poucas árvores que tínhamos por cá, e que sempre iam animando este tom esmorecido e acinzentado do betão. Dizem que é um inevitável sacrifício, por causa das raízes que rebentam com as canalizações subterrâneas, ou até pelo lixo que delas se desprende e que muito sujam as nossas ruas, mau até para o nosso sistema respiratório. E eu acredito.

É verdade que já li em qualquer lado que os nossos responsáveis autárquicos prometem para breve uma reposição arbórea que rapidamente faça esquecer o triste desbaste. Esperamos bem que sim, aguardamos ansiosamente e fazemos votos que a ideia não caia para as calendas. Mas mais do que uma reposição das árvores destruídas, gostaríamos que se pensasse numa arborização a sério, com Comissão de Estudo, Acompanhamento e Tudo. O slogan é simples: Vamos fazer de Alhos Vedros um Jardim, e até porque fica bem para os próximos actos eleitorais.

E já agora, como o dia 21 é também tido como o Dia Internacional da Poesia, podemos aproveitar o embalo e colocar também alguns poemas, na justa medida em que formos semeando as árvores, e até o turismo fará reflorescer a economia, porque são de crise os tempos que correm e é preciso usarmos alguma imaginação, que eu bem ouvi um ex-1º ministro dizer esta semana na televisão.


7.
Festejos…

Decorrem, então, os Festejos de Alhos Vedros em Honra da Nossa Senhora dos Anjos. Já não são as tradicionais festas como é vulgar acontecer todos os anos, em todas as localidades do Concelho, mas sim Festejos. É a nossa capacidade de sermos diferentes.

O princípio é básico: se podemos ter um Centro de Saúde para quê querer um Hospital? Ou, se temos um Moinho de Maré vazio, para quê organizar um núcleo museológico para mostrar a nossa riqueza histórica? Ou ainda, se temos um ringue ao ar livre para desportos vários, para que raio queremos um campo de Futebol?

É também por isso que não queremos entrar nessas operações de revitalização urbana que estão a ser feitas na Baixa da Banheira e no vale da Amoreira. Nem queremos projectos para o “Cais Velho” como esses que vão envolver a caldeira da Moita. Ora, se nós já temos um projecto para revitalização da nossa zona histórica…

Ou seja, se já não temos arbustos no jardim para que raio queremos nós um parque com lago, barquinhos e repuxos?


8.
Um Parque de Jogos?

Temos sido surpreendidos nas últimas semana com um conjunto de inaugurações no nosso Concelho que muito nos faz estranhar pela falta de hábito. Lá diz o provérbio que “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”. Será que estamos em ano de eleições autárquicas? E não se arranja por aí uma maneira de termos eleições todos os anos? Bem, mas deixemos estas cogitações, mais ou menos, banais e de duvidosas intenções, e passemos aos factos.

No dia 25 de Abril, foram inaugurados de uma assentada, o Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira, e as obras de requalificação da zona histórica de Alhos Vedros, envolvente à Praça República, onde, para além do mais, se conseguiu salvar o enorme plátano que lá existe, já um ex-libris da terra, que chegou a ter a sua sentença anunciada. Parece que permaneceu o bom senso, e quanto aos estragos no pavimento público e nas condutas de esgotos, causados pelas grandes raízes que o “bicho” desenvolve, talvez com as devidas precauções esses problemas possam ser evitados.

Ainda em Alhos Vedros, começou a ser construído o Pavilhão Polidesportivo na Escola José Afonso, enquanto no Vale da Amoreira, faz pouco tempo, foi inaugurado um novo Centro de Saúde. Obras, sem dúvida, de inegável importância para a melhoria da qualidade de vida das populações.

Por sua vez, na Moita, prosseguem as obras de remodelação da marginal que, segundo dizem, terminarão de vez com os maus cheiros provocados pela acumulação dos resíduos domésticos na zona da caldeira, tal como com a aberrante porta-de-água construída nas obras anteriores que mais não foi que um enorme desperdício de dinheiro mandado ao rio!... Ao que parece as obras irão estender-se até à freguesia do Gaio/Rosário, com uma pista velocipédica que irá desembocar mesmo ali ao pé da praia. Veremos.

As obras são sem dúvida muito meritórias e o povo agradece. E já que o Pai Natal da gente desta vez chegou mais cedo, nós não o queríamos deixar ir embora sem lhe apresentar uma sugestão. Os miúdos que moram aqui à volta da rua onde vivo (Rua António Hipólito da Costa, em Alhos Vedros) gostam muito de jogar à bola. Essa coisa que quase todos as crianças gostam de fazer. Mas como os espaços livres são cada vez menos, exactamente na ordem inversa ao crescente número de prédios, o campo da bola, agora, é a própria estrada, o que não é bom nem para os miúdos, nem para os automóveis.

Então, sr. Pai Natal, talvez não fosse má ideia construir um Parque de Jogos no meio da zona verde que está prevista prolongar-se defronte da Creche “O Charlot”. Até porque a iluminação já lá está, e tratando-se de um espaço tão votado ao abandono, ali mesmo no meio da vila, seria de muito bom tom avançar com a obra. As crianças merecem.


9.
Parabéns...

Muitos parabéns ao “Rio” pela sua chegada ao número cem.

É necessário muita dedicação e criatividade, sobretudo de quem dirige o projecto, para que seja possível o “Rio” estar quinzenalmente nas bancas, com as notícias da nossa terra. Cem vezes quinze dias, mais de quatro anos.

Durante alguns meses do ano que passou tive a feliz oportunidade de dar uma pequena colaboração à edição de alguns números do “Rio”. Foi uma experiência óptima. Acabei por perceber melhor o que era um jornal local e do infinito conjunto de tarefas que é preciso realizar para ter cada jornal feito: os colaboradores, a recolha dos artigos, a “maquetagem”, o arranjo gráfico, o angariar da publicidade, as assinaturas, a chegada do jornal, o pagar da factura, a distribuição... enfim, tantas que nem eu sei.

Não vou referir nomes a quem entregar os elogios, antes vou expressar dois desejos que, de alguma forma, possam ajudar o jornal a cumprir-se naquele que julgo ser o seu principal objectivo, o servir da região e das pessoas tanto quanto se saiba fazer:

- uma cada vez maior isenção de política partidária pelos órgãos que dirigem o “Rio”, porque é esse o dever de um jornal que se diz independente, e porque o desinteressado debate das ideias que querem servir uma região está acima dos interesses dos partidos;

- e um conselho editorial que seja, de facto, o responsável pelo material a editar em cada número do jornal, libertando quem coordena, na certeza de que o sucesso do “Rio” corresponderá proporcionalmente à entrega e à capacidade de bem fazer de cada um dos seus membros.

Em suma, se os cem números do Rio tivessem de ir a um exame e se acaso me coubesse a mim o triste papel de examinador, com certeza que Aprovaria com distinção.

Muita saúde e muito mais Rios é o que se deseja.


10.
Para quando o museu?

Com edição da Câmara Municipal da Moita acabou de sair o Livro de Actas das Primeiras Jornadas de História e Património Local. O Encontro, esse já tinha decorrido em 2001, o que quer dizer que foram necessários três longos anos para que se pudessem passar para o papel, a troca de valiosos conhecimentos sobre História Local que, então, decorreu. Mas pronto, demorou tempo mas valeu a pena, porque o resultado final foi esmerado. É um livro a sério e não se deverão poupar elogios, tanto no que diz respeito aos materiais utilizados e ao formato do livro, como à riqueza e ordenamento dos textos. Parabéns.

Foi mais uma parte da nossa memória colectiva que se conquistou. O traçar de mais uns passos seguros na definição daquilo que designa a nossa identidade colectiva. Um importante conjunto de informações sobre o legado cultural que herdámos e que, afinal, nos constitui, não fossemos nós também o resultados dos valores que as gerações anteriores nos transmitiram.

Infelizmente, a manchar a importância da iniciativa, quase em simultâneo com as palavras de enaltecimento que se ouviram no lançamento do Livro de Actas, ia-se destruindo com algumas “buldozers”, mais uma parte significativa do nosso património histórico. Aquilo que restava da antiga cadeia de Alhos Vedros que, eventualmente, também terá sido o espaço físico onde se situava a sede do Antigo Concelho de Alhos Vedros foi mandado abaixo, sem que se ouvisse uma palavra de justificação por parte dos responsáveis políticos.

Aliás, deveremos com mágoa dizer, que muito pouco se tem feito para a preservação do nosso património histórico, nós que temos no Concelho sinais seguros que remontam ao início da formação do País, e por ai fora através dos tempos, já não falando (por agora) nos vestígios arqueológicos que têm sido trazidos à luz pelo magnífico trabalho desenvolvido pelos nossos arqueólogos de serviço, muito bem liderados pelo nosso amigo António Gonzalez.

Já peca por tardia a inexistência de um núcleo museológico, onde nós possamos ver ao vivo, a enorme quantidade de testemunhos de que dispomos sobre a História da nossa terra e que têm sido o fruto de um trabalho de carolice, com fracos apoios, dos nossos associativistas, historiadores, arqueólogos, antropólogos, entre outros, tanta é a boa vontade e a riqueza intelectual que trazemos por cá.

Creio que o nosso Concelho deverá ser o único no distrito que ainda não tem um espaço museológico e, sinceramente, não se percebe do que estão à espera. E é que, ainda, nem se vislumbram sinais de que tal possa vir a acontecer. Eu avanço com uma sugestão: Penso que o espaço indicado para o Museu será o Moinho de Maré do Cais Velho de Alhos Vedros. Não haverá outro sítio no Concelho, onde se respirará com mais força os ecos da nossa história. Ora, agora que mais uma vez se vão reiniciar obras de restauração do Moinho, podia-se aproveitar e, de uma vez por todas, construir o tal núcleo museológico, que se poderá alargar ao Palácio que lhe é contíguo. Até que seria uma óptima solução para impedir que, também este, o Palácio, continue a sua degradação, e se vá de vez, tal como tem aconteceu com a casa velha da Cadeia.


11.
“Roteiro”, a bola do Euro2004

Sobre o Euro 2004 já todos os balanços foram feitos e não queremos entrar aqui em vãs repetições. Há, no entanto, uma pequenina coisa que para nós tem alguma curiosidade, mas que quase passou despercebida. A “Roteiro”, nome atribuído à bola do Euro 2004, feita por uma famosa marca desportiva, obedecendo às mais avançadas tecnologias e às mais rigorosas exigências da UEFA, assim de designou, em homenagem a um célebre Português que se pensa tenha escrito o diário de bordo da Viagem da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, capitaneada por Vasco da Gama, no ano de 1498. Referimo-nos ao escritor Álvaro Velho, natural do Barreiro, e cuja memória se guinda ao futuro, por exemplo, na Escola do Ensino Básico do Lavradio, que se faz registada com o seu nome.

Ora, como na altura o Barreiro era um lugar do velho Concelho de Alhos Vedros, do qual só saiu, se a memória não nos trai, no ano de 1524, em carta de foral atribuída pelo rei alcochetano D. Manuel I, isso significa que a “Roteiro”, assim se designou em homenagem a um famoso Alhosvedrense, mas por todos nós esquecido.

E como Alhos Vedros faz agora parte do Concelho da Moita, aqui temos todos um bom motivo de regozijo, dada a curiosa relação entre a bola do Euro 2004 e a nossa região.

Claro que já estamos a imaginar o gozo do editor e dos colaboradores do artístico “blog”, Alhos Vedros ao Poder” ( www.alhosvedrosaopoder.blogspot.com ), por poderem, assim, acrescentar mais um precioso elemento à nobre história de Alhos Vedros que, é verdade, tem andado nestes últimos tempos tão mal tratada.


12.
O Ensino Superior Público no Distrito de Setúbal

Temos aqui no distrito duas grandes instituições de ensino superior público: a Faculadade de Ciências e Tecnologia (FCT), um pólo da Universidade Nova de Lisboa, que se situa no Monte da Caparica; e o Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) que fica nas Manteigadas, em Setúbal, muito perto da estação ferroviária das Praias de Sado.

A FCT oferece várias licenciaturas nas áreas das Engenharias, das Físicas, de Ciências da Educação, entre outras, tal como um grande número de Cursos de Mestrado. O IPS, que é constituído por cinco escolas diferentes, uma delas situada no Barreiro (a Escola Superior de Tecnologia do Barreiro), tem licenciaturas na área da Educação, Engenharias, Ciências Empresariais, Enfermagem e Terapia da Fala, estando a iniciar-se também em Mestrados.

É verdade que o ensino superior público atravessa um período muito difícil, sendo as políticas educativas alvo de muitas e duras críticas, que são disparadas de várias direcções: o financiamento escasseia, as propinas aumentam, o desemprego torna-se uma ameaça constante, a estabilidade profissional é um horizonte cada vez mais longínquo, a formação é um processo longo e doloroso, a integração no mercado de trabalho para os recém formados é por demais insuficiente, os modelos pedagógicos quedam-se por velhos e caducos. Tudo isto face a um mundo de renovadas pretensões que se coloque, de facto, ao serviço (de todas) das pessoas.

Apesar de tudo, a escola, tal como este período de tempo que decorre entre o Natal e os Reis, ainda é um lugar onde se pressente que a magia anda no ar. Um bom ano a todos.


13.
Exporadicamente…

O destaque desta nossa crónica vai inteirinho para o “Exporádico 2005” que decorreu entre os dias 5 e 13 de Fevereiro, em Alhos Vedros. Esta Exposição de Artes, organizada pelo T.A.L. (Temas Artísticos Livres), já vai na sua 4ª edição, deu-nos a oportunidade de apreciarmos o que vêm fazendo muitos dos artistas da nossa região, tão abundante que foi a sua participação neste evento. Estiveram expostos trabalhos de pintura, escultura, instalações, multimédia, cinema, música, dança, teatro e poesia, que mobilizaram, decerto, mais de uma centena de indivíduos.

Parabéns, pois, ao TAL, ou seja, à Célia Martins, ao Rui Marques e ao José Pereira, a quem coube a organização deste Exporádico e que este ano se consolidou, estamos certos, como um acontecimento de grande dimensão regional, em franco crescimento.

Também de parabéns está a vila de Alhos Vedros, porque viu assim confirmar-se mais um evento de extraordinária importância para as populações da região, vindo-se juntar à Feira do Livro (uma das mais antigas do país, organizada pela Academia), ao Festival Internacional de Folclore (Rancho da Barra Cheia), ao Corso Carnavalesco (SFRUA), à Bienal de Pintura de pequeno formato (CACAV) e ao Conhecer para Aceitar (Junta de Freguesia). É caso até para perguntar sobre quais as razões de uma tão rica dinâmica cultural? Pena é que, por falta de apoios, não se possa dar continuação ao Festival de Música Lusófona que o ano passado por cá decorreu e que este ano, tudo indica, regressará a Lisboa.

Esperamos que o poder autárquico esteja atento a toda esta riqueza cultural que vem caracterizando a Vila de Alhos Vedros e que, cumpra o seu papel, quer no apoio logístico e financeiro, quer na criação de infra-estruturas locais que permitam a solidez e o desenvolvimento de todos estes Acontecimentos culturais. Por exemplo, o espaço onde decorreu o “Exporádico 2005” (antigas instalações da Guston Confecções) está para venda e fomos ouvindo muitas pessoas dizerem, durante a Exposição, que a aquisição daquele imóvel seria um bom investimento por parte da autarquia, até porque nele se situa um importante edifício do nosso património histórico e arquitectónico. Referimo-nos ao Palacete do Cais Velho que está a ficar em fase de avançada degradação e que precisa urgentemente de atenção.


14.
Exercício de cidadania

(…)

Embora não tenha aceite participar directamente no debate partidário, já que não integro nenhuma das listas candidatas, ainda assim, gostava de deixar algumas ideias que, eventualmente, poderão ser úteis aos próximos autarcas responsáveis pela cousa pública, dadas as reconhecidas carências do nosso Concelho nalgumas áreas.

. Criação de um Pólo Museológico (arqueologia, história local, património cultural e ambiental, etc.), já que o Concelho da Moita é o único do Distrito que não tem um núcleo museológico.

. Favorecer o Desenvolvimento das Artes (os criadores da nossa praça contam com poucos apoios por parte da edilidade, mas não faltam escritores, músicos, pintores, fotógrafos, poetas, dançarinos…). No cinema temos uns ciclos exporádicos; teatro só nos Reformados do Norte; não existe uma política concreta de apoio à edição livresca; a dança, é residual; na música e nas artes plásticas há muito por fazer.

. Fomentar o Desporto - as infraestruturas do concelho são escassas e não tem havido uma política de apoio efectivo ao desenvolvimento, pelo menos, de algumas áreas desportivas. Andebol, Basquetebol, Voleibol, Hóquei Patins... não existem; Ténis, com campos ao abandono; Canoagem, faz-se em condições muito deficientes; Atletismo com equipa, mas sem infra-estruturas, etc.

. Cuidar do Ambiente - O Planeamento urbano está muito longe do razoável; as ETAR’s precisam ser construídas; é urgente preservar as zonas verdes naturais que ainda existem; fazer uma arborização cuidada de todo o Concelho, sobretudo, das zonas urbanas; preservar a zona ribeirinha; criação de um Ecomuseu, o modelo do Seixal é muito bom; as ciclovias são uma muito boa ideia.

. Ter a casa arrumada, pensar em quem nos visita (desenvolver actividades de intercâmbio cultural) – somos o único Concelho da Península de Setúbal sem equipamentos hoteleiros; é necessária uma maior promoção do intercâmbio cultural regional, nacional, internacional; há que apoiar a dinamização de Festivais Culturais (música, teatro, cinema, dança, folclore, gastronómicos, etc.).

. Ideias à solta - Criação de uma Agência de Desenvolvimento local fora da esfera estritamente partidária; ajuda à promoção do pequeno comércio local; ajudar ao desenvolvimento do tecido produtivo, por exemplo, com um ajuda mais efectiva à criação de PME, cooperativas e outras.


15.
Coisas do Mundo

No Concelho da Moita serei de Alhos Vedros. Sempre no mais amplo respeito e tolerância pelos meus vizinhos, sejam da Moita, da Baixa da Banheira, do Vale da Amoreira, ou de Palmela, apostando num convívio são aonde quer que vá, mas sem nunca deixar as minhas opiniões por mãos alheias e esperando, naturalmente, o mesmo respeito (não a concordância) de todos por elas. Nunca deixarei de querer para qualquer outro, aquilo que quero para mim próprio.

No Mundo serei da Língua Portuguesa. Num mundo de relações dominado pela anglofonia, pelo avanço da indústria, pelo poder do mercado, pela força da grana (que ergue e destrói coisas belas) e, na actual conjuntura, como a Língua que põe e dispõe da guerra, os meus mantras serão produzidos em Português e para eles procurarei sempre o posto de porta estandarte da Paz.

Face a todos os outros mundos que, porventura, existirão, serei do planeta Terra e face a todo o Universo serei do sistema solar. Até que a força me almeje, até que a alma – definitivamente - me guie, tentarei sempre preservar a natureza, preservando-me, antes de mais, a mim mesmo, mas também às árvores, aos pássaros, aos rios e aos mares. Tentarei evitar a poluição desmedida, porque ninguém gosta de viver com montes de lixo ao pé da porta, ou numa rua que cheire mal.

Face ao pensamento transcendental que é produzido pela religião serei, preferencialmente, cristão, de uma maneira que não é só minha, mas que tem muito de peculiar. E também aqui deixarei sempre que cada um reze ao Deus que escolher. Seja islâmico ou indú, budista ou taoista, da América ou Chinês, ou até daqueles que acham a Terra povoada pelos espíritos dos antepassados, a todos considerarei a sua mensagem. Tentarei ser sempre, em consciência, uma parte daquilo que ao outro, e ao mundo, constitui. Até que um dia, a religação entre os Homens e os Deuses seja feita sem a necessidade de recurso a esses vários sistemas de ideias transcendentais e que baste um único, ou nenhum, que os sintetize a todos.

de um militante do mundo, à solta, desconcertante e sem compromisso político, cidadão de Alhos Vedros.



2ª PARTE -
ESTÓRIAS DE LÁ CONTADAS AQUI


"Sou Mesmo Assim!..."

Eu também sou.
Tudo o que trouxe, tempos fora
dou
até que o destino permita
até que a arte me largue
até que o amor me detenha,
dou
é a liberdade eterna o meu tesouro escondido.

Também eu sou
da Língua Portuguesa
que é árabe e que é moira
irmã de galegos, filha de latinos
contagiada por costumes bárbaros
herdeira de falas europeias da Índia
filha do mar e da terra do planeta Terra.

Fui então a navegar
para o lado de lá do mar
às ilhas atlânticas, nas costas da Atlântida
às costas de músculos africanos
a Mombaça e a Melinde
pelas rotas das Américas
de novo às índias regressei
no Tibete, à Tailândia, ao Japão
e por lá fiquei.

dedicado a um dos grandes poetas da Lusofonia contemporânea, Manuel de Sousa, um luso-angolano que vive em Luanda, parceiro certo na correspondência internética.


1.
D. Dinis

Eis algumas das razões porque se considera o rei D. Dinis uma das figuras mais ilustres da História de Portugal:

- D. Dinis, a quem chamaram também “O Lavrador”, cognome decerto dado pelo bom planeamento das terras a agricultar e pelas preocupações de prosperidade do povo e do país, foi também uma das grandes figuras da poesia medieval, sendo um dos autores com maior número de registos nos Cancioneiros;

- o plantador de naus a haver, como lhe chamou Fernando Pessoa, e que instituiu a Língua Portuguesa no país, ou seja, o que preparou os alicerces para as Grandes Viagens da Língua Portuguesa e da expansão da mensagem Cristã pelo mundo;

- que iniciou os Estudos Gerais em Lisboa que acabaria por dar na primeira Universidade Portuguesa, no século XIII, abrindo o caminho aos necessários conhecimentos técnicos, para melhor satisfação do corpo e do espírito;

- que escolheu para companheira a Rainha Santa, a tal do Culto Popular do Espírito Santo, amiga cuidadosa dos pobres e dos enfermos;

- que fundou a Ordem de Cristo, a partir dos excomungados, perseguidos e martirizados Templários, revelando uma tolerância rara em difíceis períodos de santas inquisições, transferindo a larga maioria dos bens herdados, quiçá materiais e espirituais, para a nova Ordem;

- pessoa de enorme prestígio em toda a Península, e não só, sendo considerado - segundo diz a "velha" história - um dos maiores governantes de todos os tempos, o que pode ser simplesmente uma homenagem de seu filho, Dom Pedro, o que não deixa de ser um importante testemunho;

- desenvolveu as feiras, normais e francas, o que aumentou significativamente o movimento comercial e a economia;

- foi o "grande mineiro", mandando lavrar minas de prata, ferro, estanho, etc.

- instituiu a marinha (além de ter sido o tal “plantador de naus) e fomentou a exportação, etc.

Como "Lavrador" fez tanta coisa, e de tal modo inteligente, com sistemas diferenciados de acordo com as regiões do país, que lhe ficou o cognome. E fez bem mais. Esteve "lá" 46 anos, mas podia ter sido um idiota. Felizmente não foi. Sem falar no 1° rei de Portugal este foi, para mim, o maior. E ainda por cima cantava "o fado" com letras lindas de sua autoria, e que têm um sabor "Muito Nosso".

Pena que não haja mais reis com a visão deste!

(Texto com a participação de Francisco Amorim, vindo do Rio de Janeiro, Brasil)


2.
D. João I, o Mestre de Avis

D. João I, o Mestre de Avis, é, decerto, a figura real que mais ficou ligada ao Concelho da Moita, em toda a História de Portugal. É sabido através do cronista Gomes Eanes de Zurara que o “Rei de Boa Memória”, cognome porque ficou conhecido, fez de Alhos Vedros o seu retiro quando da morte de sua mulher, a rainha Filipa de Lencastre, atingida pela peste negra que então assolou o país e que, de resto, dizimou uma parte significativa da população.

Foi durante este tempo de luto que o rei terá recebido os príncipes, seus filhos, e outros membros da corte, para serem discutidos os planos da conquista de Ceuta. Tratava-se de continuar com a política de expansão territorial, através da qual se tinham definido as fronteiras do país, num conflito aberto com os árabes que durava há séculos. Um velho diferendo entre o cristianismo e o islão que, infelizmente, ainda não chegou ao fim.

A conquista de Ceuta, em 1416, constituiu-se como a primeira grande etapa da expansão ultramarina que levaria Portugal a construir um imenso império colonial. É, pois, um dos grandes marcos da História de Portugal e que, naturalmente, é também um património que nos cabe a nós, os do Concelho da Moita, valorizar e defender.

Agora que, trinta anos depois da Revolução da Liberdade, o Império está definitivamente acabado, coube-nos como herança partilhar uma Língua, a Língua Portuguesa, que não é mais exclusivamente nossa, espalhada que está pelos quatro cantos do mundo, erigindo-se como um sinal de força e de esperança.

Vejam, então, os dois belos poemas que vos deixamos, um chegado de Salvador da Baía e outro de Luanda, facto que só é possível, porque um dia D. João I, o Mestre de Avis, arribou a Alhos Vedros.


3.
O Infante D. Henrique

Depois de D. João I, a quem fizémos referência no último número do jornal, aproveitamos para prestar também homenagem a um dos seus filhos, o Infante D. Henrique, Regedor da Ordem de Cristo, que também terá andado aqui por Alhos Vedros, pisando o mesmo chão que nós hoje pisamos.

O Infante, como sabemos, foi um dos grandes impulsionadores dos Descobrimentos Portugueses. Sob a sua égide, e nos desenvolvimentos da batalha da conquista de Ceuta, descobriram-se os arquipélagos da Madeira e doas Açores, dobrou-se o cabo Bojador (ao sul do qual, diziam as lendas do Mar Tenebroso, era impossível manter-se a vida) e chegou-se à Guiné e a Cabo Verde. Foi também ele que congeminou o “Plano das Índias”, ou seja, o desejo de chegar à Índia pelo mar, facto que se haveria de conseguir uns anos mais tarde (1498) com a famosa viagem de Vasco da Gama, no reinado de D. Manuel I. Enfim, todo um Projecto que ainda hoje nos dá “águas pela barba”.

Atravessávamos então o século XV, e já D. Dinis, um século antes, tinha instituído a Língua Portuguesa, a mesma Língua que na altura se falava na Galiza (e que ainda hoje, em larga medida, se fala) e que, como sabemos, não é igual ao Castelhano, a Língua oficial dos “nuestros hermanos” espanhóis.

Recorde-se que Portugal formou-se como país a partir do Condado Portucalense, uma prenda dada pelo rei de Castela, um dos grandes reinos da Península na época, ao cruzado D. Henrique, pela sua ajuda na luta contra os “infiéis” árabes, à qual, de resto haveria de juntar a sua filha D. Teresa, futura mãe do primeiro rei de Portugal. A outro cruzado, D. Raimundo, seria dado a Gallaecia (Galiza) – se é que a memória não me falha – território contíguo ao Condado Portucalense.

Ainda hoje, como poderemos ver no artigo em baixo, não é totalmente pacífica as relações entre galegos e castelhanos, muito particularmente no que se refere às questões da Língua, um dos pilares fundamentais da identidade cultural de um povo.


4.
Agostinho da Silva

O Professor Agostinho da Silva, depois de dez anos passados do seu desaparecimento físico, continua a ser alvo de encontros e homenagens em vários lugares do país, nalguns casos juntando até pensadores estrangeiros, sobretudo brasileiros. Disso mesmo é boa testemunha o Seminário international Luso-Brasileiro que decorrerá este mês, em Lisboa.

Como é sabido, Agostinho da Silva viveu 25 anos no Brasil, exilado político, depois de ter sido expulso do ensino e perseguido pela polícia política, por discordâncias com a ideologia do regime fascista.

No Brasil pôde continuar a exercer a sua profissão de Professor e, muito mais do que isso, tornou-se fundador de Universidades em vários lugares do país, pôs a funcionar Centros de Estudos, como foi o caso do Centro de Estudos Afro-Brasileiros, de São Salvador da Baía, ainda hoje a funcionar, e foi até acessor de Jânio Quadros, Presidente do Brasil.

Mas não se esquecendo da terra mãe, Agostinho da Silva, então já com dupla nacionalidade, regressaria a Portugal no início da década de 70, onde durante mais 25 anos, pôde retomar as suas ideias e desenvolver a sua filosofia. Foi ele que, por exemplo, conjuntamente com José Aparecido de Oliveira, muitos anos Embaixador do Brasil em Portugal, haveriam de ser os percursores da ideia de uma Comunidade de Povos de Língua Portuguesa (a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, é a versão política, desvirtualizada, dessa ideia).

O Professor Agostinho da Silva é, decerto, uma das grandes figuras portuguesas do século XX e a obra que nos legou é grandiosa, daí que os estudos, os Seminários, as Homenagens, ainda não tenham cessado, vivificando cada vez mais o seu espírito entre nós.


5.
Carta para um amigo que nunca vi

Meu bom amigo Francisco

Vou tentar responder-lhe à interrogação que me deixou. Cheguei a conhecer pessoalmente o Professor Agostinho da Silva. Estive três vezes em sua casa, onde a porta estava "aberta" para quem o quisesse visitar e conversar. E eu fui. Era sem dúvida um Homem do Amor. "Amar o Amor" talvez seja, em minha opinião, a expressão que melhor sintetiza a sua Sabedoria. Agostinho da Silva é, seguramente, uma figura ímpar entre os grandes homens da cultura portuguesa. Um dos maiores na minha modesta opinião. Não era um homem sisudo. Era um homem de grande poder com a palavra, de uma cultura vastíssima, mas o que me saltou imediatamente a atenção quando o vi, foi a alegre e doce energia que ia largando, enquanto falava do alto dos seus mais de oitenta anos, como se tivesse conseguido manter a criança que consigo nasceu.

À semelhança do Francisco também eu não estudei letras e o que conheço é, de certa forma, o que aqui e ali a vida me foi trazendo. Ainda assim, talvez lhe deva dizer que sou professor (assistente) do Ensino Superior, na incerteza de já lhe ter dito. Não farei grandes comentários a algumas questões que o Francisco coloca na sua carta, por um lado, por desconhecimento, por outro, porque não li o livro que lhe enviei, embora já tenha lido uma parte muito substancial dos escritos do Agostinho e conheça pessoalmente alguns dos seus melhores "seguidores", ele que não queria discípulos.

O Culto Popular do Espírito Santo ganha em Agostinho uma importância decisiva na ultima fase da sua vida, porque é nele que ele encontra, e agora vou arriscar muito, uma das melhores ideias para que cada Pessoa da Lìngua Portuguesa se possa cumprir e encontrar na Vida, quer olhando para trás até ao reinado de D. Dinis, cruzando a História de Portugal, quer olhando para a frente e aí, já vendo como o Culto saltou para os Açores, o Brasil, algumas comunidades dos EUA, etc. etc. etc.. Ou seja, Agostinho da Silva foi encontrar no século XIII, em Portugal, com D. Dinis e a Rainha Santa Isabel(!), um ritual que cumpria alguns dos valores que para si eram mais sagrados - "a partilha da comida, a libertação dos presos, a coroação de uma criança como imperador do Mundo".

Não me alongarei mais. Creia que o Professor Agostinho da Silva foi (e será) um dos maiores vultos da cultura da Língua Portuguesa, ele que ganhou dupla nacionalidade Portuguesa e Brasileira. Deixarei um textinho do Agostinho que para mim faz particular sentido quando Dele se gosta:

"Meu caro amigo: Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem comentidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de s e não conformarem."

Um grande abraço e desejos de um bom ano

(Bom sinal o Francisco ter-me metido a escrever sobre o Agostinho logo no primeiro dia do novo ano!).


6.
Portugal

Segundo a União Europeia, é considerado pobre aquele que ganha 60% do salário médio do seu país. Como em Portugal a média de ordenados é de 645Euros (129.311$), o nosso limiar de pobreza é de longe o mais baixo dos 15 países que constituem a União Europeia.

Nós, o povo do Quinto Império, que espalhámos o Cristo pelo mundo fora, e a Língua, que abrimos inéditas "auto-estradas" pelo mar, dando novos mundos ao mundo, talhados, dizem, para a construção de um Império Universal de Amor e de Serviço, andamos nitidamente aos caídos nestes quase vinte anos de filiação europeia, embora passados Três Grandes Quadros Comunitários de Apoio ao Desenvolvimento (estamos prestes a entrar no Quarto), continuem a entrar, diariamente, muitos milhares de euros no país.

Porque será?
Será próprio da nossa natureza?
Será do clima?
Será da localização geográfica (país periférico, do "midi")?
Será fruto da misceginação cultural do passado?
Será do largo passado fascista e do orgulhosamente sós?
Será da incompetência política? (E são todos ou, simplesmente a larga maioria?)
Será da inconsciência colectiva?
Será devido a uma medíocre integração do outro e do mundo?
Será da inveja, do ciúme, da intolerância, da saudade?
Será por falta de um Plano bem objectivado?
Será por preguiça (falta de produtividade, competividade, etc., - e como eu detesto estas idades...)?
Será que é por gastar tantas horas de vida a trabalhar?
Será por tanto se gastar com a indústria militar?
Será por causa da alimentação?
Será por maltratarmos demais os animais?
Será devido às forças do mal? (E o que é o mal?)
E o amor? (O que é o Amor? O que é a Amorc? E o que é A morte?)
Será por incapacidade do mundo?
Será pela poluição desmedida e pela doença?
Será pela imperfeição socialista?
Será devido aos espíritos neoliberais?
Será pelos espíritos dos antepassados?
Será por carregarmos um karma pesado?
Será por fidelidade ao espírito cristão?
Será por vivermos, efectivamente, no Reino de Cristo?
Será por não abarcarmos adequadamente as outras expressões religiosas (e não será que todas elas são uma maneira diferente de se referirem a uma mesma coisa)?
Será por um pouco de tudo isto?
Ou será que assim é que estamos bem e, neste momento, não podíamos estar melhor?
Porque será?

Está bom de ver que ao reparar nas respostas sempre prontas, na ponta da língua, passei à construção de uma lista de perguntas. Talvez a solução, se é que precisa de haver uma solução, também passe por aqui: dar perguntas às respostas. Embora toda a gente saiba que o idealismo alemão não pode viver sem o materialismo histórico, pretendendo com a parca afirmação dar uma noção paradoxal da realidade, ou dizendo de outra forma, uma boa fórmula necessariamente reducionista para dar conta da organização complexa do Universo, e logo, por decréscimo, também de Portugal.

E porque cada um é um e, simultaneamente, o mundo inteiro:
Viva Portugal. Viva a Língua Portuguesa e todos os Países de expressão lusófona. Viva o Mundo. Viva o Universo.

E se em vez de comparar o salário médio de Portugal com os países mais ricos da União Europeia, comparássemos, por exemplo, com os outros países que constituem a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), países com problemas vários entre a pobreza, a exclusão social, a marginalidade, a criminalidade, com certeza que as nossas perguntas para as respostas, ou pelo menos, a intenção que nos levou a elas, seriam necessariamente diferentes, mas não menos interessantes. Um bom exercício seria, decerto.

Do Natal ao Fim do Ano, 2004, retido em casa devido a uma forte gripe que me deixou (quase) de rastos. Tanto mistério, tanto mistério, e só a gripe não tem mistério nenhum. Ou será que tem?


7.
Caravela.com

Os Descobrimentos Portugueses foram pensados e arquitectados no seio da Ordem de Cristo, a tal criada por D.Dinis, que também instituiu a Língua Portuguesa como Língua oficial do país. A Língua Portuguesa que há muito deixou de ser propriedade exclusiva de Portugal como muito bem sabemos. Parafraseando Caetano Veloso, "...Gosto de sentir a minha língua roçar a Língua de Luís de Camões..." - que frase gostosa, não é?

As bandeiras das caravelas que partiram para além mar, então abrindo novos caminhos ao mundo, era o símbolo da Ordem de Cristo que levavam. Aliás, o Grande Arquitecto desta grandiosa Empresa, o Infante D. Henrique, era o Grão-Mestre da Ordem.

Longe de ser uma empresa exclusivamente economicista, onde o que era mais importante, era o ouro, o acúcar, a canela, a pimenta, ou outros géneros miúdos, que, sem dúvida, tanta importância têm na nossa vida do dia a dia, o que levavam os Portugueses era, sobretudo, a palavra de Cristo, que tão à frente estava deste espírito "da compra e da venda das pernas", que tanto caracteriza os dias de hoje.

Destroçaram-se famílias na África Negra e usurpou-se bens e território aos índios sul-americanos, e continua a usurpar-se. É verdade! Não há que ocultar e quem tiver que assumir as responsabilidades que o faça. Talvez o Presidente Português o devesse ter reconhecido no primeiro dia das comemorações do Achamento do Brasil. Enfim, quando a consciência do povo brasileira se elevar, com certeza, que tudo ficará mais claro. Como diz Agostinho da Silva no seu livrinho O Sábio Confúncio, "...um povo escravizado é efectivamente um povo de escravos; se não tivessem alma de escravos, os homens jamais consentiriam tiranos...".

Agora, não há que confundir "a floresta com algumas árvores". Os Portugueses da Idade Média, a falarem a Língua Portuguesa (e reafirmo-o porque talvez assim valorizemos mais a Língua que falamos, em vez de a andarmos levianamente a trocá-la, por tudo que é sítio, pela anglo-saxónica), transportavam valores mais altos do que simplesmente carregar as matérias primas que fossem encontrando. E esse espírito da Idade Média em Portugal, pelo menos em termos de ideal, estava muito à frente dos valores que vão norteando esta economia do mercado, esta sim absolutamente materialista, e não como dizem os especialistas que não percebem de mais nada a não ser da importância da sua conta bancária, que o Espírito Português dos Descobrimentos era só isso de explorar e maltratar.

Esse Espírito Português da Idade Média, embora tenha atravessado um tempo de grande letargia, está bem vivo. E não só aqui em Portugal, como no Brasil, e em várias comunidades de Língua Portuguesa espalhadas pelo mundo. A CPLP (Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa) é, de alguma forma, o renascer desse espírito em força. Sem dúvida que está a Comunidade um pouco amesquinhada pelas limitações dos políticos, mas agora como a sociedade civil que somos nós está a criar a CPLP dos pequeninos são novas esperanças justificadas que se reabrem.


8.
A CPLP dos Pequeninos

Ontem, fui aqui em Alhos Vedros (e não Alhos Verdes como diz a Margarida Castro) à abertura de uma Galeria de Artes, pertença de um amigo meu, o que por si só já bastaria para me deixar satisfeito - um amigo meu a inaugurar um novo espaço dedicado às artes. Mas muitas outras coisas eu vi.

No chão do pequenino quintal que dá acesso à entrada, arquitectado com raro bom gosto, podíamos ver a Bandeira do Brasil desenhada com areia amarelada e relva natural. A separar o quintal da entrada para a sala principal, num pano enorme, e por detrás de uma antiga laranjeira que faz muitos anos por ali vive, de novo a bandeira brasileira. E ali logo ao lado, espetadas num montículo de areia que antes ali estava abandonada como desperdício de obras, um conjunto de lindas flores, de várias cores, com pé alto, a revelar um extremo bom gosto.

É claro que tanta brasileirice não estava ali por acaso. A exposição que assinalava a inauguração da galeria pertencia a dois artistas vindos do Brasil, brasileiros, ele na pintura e ela na tecelagem artística, ele de Brasília e ela de Ribeirão Preto. A exposição estava bonita e sobre o valor das obras não vou falar. O beberete foi feito com sumo de guaraná, algum vinho branco (bem sei que o Manuel de Sousa vota contra) e abriu-se também uma garrafa de espumante Raposeira vinda do Brasil (!!!) que por acaso tinha sobrado intacta da festa de passagem do ano. Houve até alguma fumarada de umas ervas... brasileiras. Por mim, dei-me satisfeito por dois copinhos de sumo e um copinho de espumante na altura do brinde. Já me esquecia, comi também uma ou duas castanhas de cajú.

E para além do mais, o meu amigo, que vive maritalmente com uma brasileira (também minha amiga de muitos anos), regressou faz pouco tempo de Brasília, onde fez uma exposição de trabalhos seus em azulejaria artística, ele que é e sempre foi um artista na verdadeira acepção da palavra, porque para ele a arte é a própria vida. Parabéns Luis Guerreiro!

A juntar a tudo isto ainda vi uns pretinhos e uma mulatinha (não sei se de Angola, mas longe da vergonha da guerra civil), a olharem as obras da exposição, filhos também de amigos meus. Por cá, não há nada, de facto, que chegue à beleza das crianças.

A espaços o meu amigo que andava satisfeitíssimo com toda aquela obra, dizia-me que o próximo passo era fazer a geminação entre Alhos Vedros e Brasília. Geminação acho que é uma qualquer legislação que dá uns subsídios para que se desenvolvam laços de amizade entre dois lugares. Bem, vontade não lhe falta...

E pronto, é a tudo isto que eu chamo o CPLP dos pequeninos, prometedores encontros de cânticos celestiais, em diferentes tons de Língua Portuguesa.

Aquele abraço (como diz o Gilberto Gil, o amigo do Caetano Veloso),
do Luis Carlos.


9.
Meus caros amigos

Vou aproveitar esta resposta do Manuel de Sousa para a Nadia Chaia, de um amarelo brilhante quase cor do sol, por isso um pouquinho difícil de ler, mas de tão profundo significado, com que o amigo Manuel sempre nos brinda. Bem sei que à excepção dos amigos Luciano da Silva, Fernando Gomes e José Estrela (que me perdoem este trato mais familiar) todos receberam as palavras que vão abaixo, o que pouco importa porque não é pelo seu conteúdo que me dignei a escrever-vos. É antes pelo profundo significado que tenho encontrado na nossa comunicação que tem como bandeira a Língua Portuguesa como incansavelmente diz a Margarida Castro.

Quando perguntaram ao Professor Agostinho da Silva, ele que tinha dupla nacionalidade Portuguesa e Brasileira, acho que ainda a propósito das ideias do Quinto Império do Vieira e do Fernando Pessoa, entre outros, "se achava que o povo português era um povo eleito?", ele respondeu que "se não era eleito que se elegesse". É um pouco como tem de fazer cada qual. Pois é, a Língua Portuguesa é cada um de nós. E que grandiosidade nos dá um estar no Canadá, outro nos EUA, dois no Brasil, porque um sairá amanhã para Moçambique (e o nosso coração decerto que o acompanhará na viagem e na estadia), um nos Açores, um em Angola e três em Portugal (porque um acabou de chegar de Moçambique e ainda não sabe quando regressa). E que grande riqueza na diversidade, se por acaso um gosta mais do Islão, ou dos Vedas, ou do Espírito Santo, ou de Cristo, ou de Iemanjá, ou mais Católico, ou Budista, Induista, Animista, ou se não prefere nenhum ou todos juntos.

Cá para mim penso-nos como uma Ordem, sem estatutos, sem sede física, sem jornal nem revista, sem reuniões ordinárias, ou seja, sem prisões de nenhuma espécie, porque plena de liberdade. Vou-lhe chamar mais uma vez, à falta de melhor, a CPLP dos pequeninos, sendo que o primeiro P significa Pessoas e não Países, e pequeninos porque é dos que não têm nenhum poder e que não tendo nenhum têm-no no todo. Como no Culto do Espírito Santo em que o imperador é uma criança.

Vocês não acham?

E pronto lá vai um pequenino poema:

O Verbo é o Som
a vibração que produz o som
a respiração do Universo
cuja fonte é audível no profundo silêncio
e que comanda a palavra e a música.


10.
O Estandarte da Paz

A Língua Portuguesa vive finalmente em paz.

Parece que é desta que o povo mártir de Angola vai poder organizar a sua vida sem a preocupação de uma nefasta guerra que se arrastava há mais de quarenta anos, sendo agora necessária a maior rapidez na desminagem do território, de forma a poupar vidas inocentes, e na reorganização do país, para que se vença de uma vez o triste cenário da miséria e da fome.

E se, em relação a Angola a notícia não podia ser melhor, o mesmo se dirá sobre a independência de Timor, o mais jovem país do mundo, o oitavo membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que tudo fazendo para não chegar atrasado ao novo século, venceu a guerra civil e a ocupação indonésia, e poderá, agora, num espírito de fraternidade democrática, concentrar as energias na melhoria das más condições de vida do seu povo.

A história que eu quero contar aqui começou, quando em resposta a uma carta minha, o Professor Agostinho da Silva (um dos autores pioneiros da ideia de uma Comunidade de Povos de Língua Portuguesa) me referiu uma Livraria que havia em Setúbal, a Livraria Uni Verso, onde se organizavam uns encontros culturais, subordinados a variadíssimos temas: poesia, literatura, história, física... Salvo erro, designavam a Livraria por “Casa de Estudos” e promoviam o que chamavam de “Estudos Gerais”.

Setecentos anos atrás, o rei D. Dinis transferia, de Lisboa para Coimbra, a primeira Universidade Portuguesa e iniciava o “Estudo Geral”. Também nesta altura e, ao que parece, inspirada por um tal abade Joaquim de Flora, a Rainha Santa Isabel, iniciou a prática em Portugal do Culto Popular do Espírito Santo. No Domingo de Pentecostes, abriam-se as prisões, dava-se de comer a quem tinha fome e coroavam-se as crianças e os pobres como imperadores do Mundo, num simbolismo que se devia alargar ao resto do ano e do mundo. Entrávamos, então, conforme pensavam, na Terceira Idade do Mundo, a Era do Espírito Santo, aquela que ligaria o Céu e a Terra.

Através dessa Livraria fui dar com o reavivar desse Culto Popular que em alguns lugares de Portugal, como Sintra, Tomar e, sobretudo, nos Açores, mas também no Brasil e em Comunidades Portuguesas dos EUA, são cultos vivos, desde há muito. Foi o Professor Agostinho da Silva, mas também o poeta e ensaísta António Quadros quem “apadrinhou”, em Setúbal, tal ritual. E é, assim, que se cruza toda a história de Portugal, indo quase até às origens da nacionalidade, mais propriamente ao centro do reinado de D. Dinis, onde no seio da Ordem de Cristo, aquela que sucedeu à Ordem do Templo, se começaram a pensar “Os Descobrimentos”.

E justiça à Ordem seja feita, pois que foi, sobretudo, de expansão da fé cristã que se tratou, e não de simples comércio como querem alguns. Tanto que tivemos, uns anos mais tarde, o Infante D. Henrique, figura de proa da Expansão, Mestre da Ordem, que haveria de dar expressão ao Projecto. Ele e todos os outros. Se depois a coisa virou negócio, isso já é contar só uma parte da história, porventura aquela que terá menos interesse, porque muito de humanas luxurias e invejas se trata. No fundo, o que mais interessava (e interessa) é o que está do lado de lá da existência humana, o que mais, então, se procurava e se queria colocar no centro do mundo.

É também por ele, D. Dinis, que hoje falamos Português. Foi ele que no século XIII oficializou a Língua Portuguesa. É ela o principal marco da nossa identidade. Foi através dela que pudemos testemunhar o discurso de Xanana Gusmão a assinalar um Timor Leste independente, ou as recentes declarações de paz que promoveram o reencontro entre todos os angolanos, a pôr fim a uma guerra civil que só peca por chegar com algum atraso.

Mas digamos, desde já, que se foi D. Dinis que instituiu a Língua Portuguesa, tendo-se depois espalhado pelo mundo, por países e comunidades, tal como a conhecemos hoje, da mesma forma ela aqui chegou, proveniente de outras raízes (celta, galaica, romana, grega, árabe), constituindo-se Portugal como seu utilizador e mediador.

Parece agora, finalmente, ter chegado o tempo de se falar a Língua Portuguesa sem a obsessão da guerra. É, por fim, chegada a Hora, de se agarrar no estandarte da paz que jaz aí estendido no chão. Talvez seja esse o nosso destino: levar paz e religião ao mundo. O Projecto precisa de continuar.

Foi bom, foi mau? Deveria ter sido assim, deveria ter sido assado? Daqui em frente terá de ser melhor? Sem dúvida, e quem souber que o diga, sempre sem esquecer o respeito e o amor que merece cada qual e, por extensão, cada Língua.

Decerto que hoje Portugal transborda das suas fronteiras pela Língua Portuguesa. O nosso país será hoje muito mais, do que simplesmente o seu espaço físico entre o continente e as ilhas, deste ocidental canto europeu. Eu diria que Portugal relaciona-se com o mundo, sobretudo, em três frentes principais:

Primeiro, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, onde se afirma a Língua uma razão de Ser. Segundo, na União Europeia, mantendo todo um diálogo necessário com as grandes potências económicas, sem nos desligarmos de toda esta materialidade de ponta que se define, antes de mais, pelo grande desenvolvimento científico e tecnológico. Terceiro, numa relação ainda algo incipiente, mas não menos importante, na constituição de um bloco Ibero-sulamericano, onde mais uma vez nos surge a extrema importância da proximidade linguística.

Será, sobretudo, pela afirmação da nossa Língua no mundo, mas obviamente no respeito por todas as outras, que nos deveremos empenhar.

11.
Às voltas com a Língua

Hoje teremos notícia de um casamento: uma filha de José Eduardo dos Santos, Presidente da República Popular de Angola, casou-se com um cidadão português. Para além do relativo interesse que o acontecimento possa ter, no prolongamento e fortalecimento das seculares e intensas relações, entre estes dois países Lusófonos que se querem Amigos, acompanha a notícia do casamento um conjunto de comentários que pela sua disparidade acabam por revelar-se... interessantes.

Mais ou menos, pela mesma altura do ano, um investigador galego da Universidade de Santiago de Compostela, José António Souto Cabo, apresentou na Universidade do Minho, em Braga, a descoberta do documento mais antigo até hoje identificado, escrito em galaico-português – um Contrato anterior ao ano de 1175, entre os irmãos Gomes Pais e Ramiro Pais, que estabelece um pacto de não agressão, facto nada estranho para a época.

Antes disso, como sabemos, tudo se escrevia em latim. A Língua Portuguesa haveria de ser instituída, mais ou menos, um século depois pelo rei, poeta, D. Dinis.

Tudo isto nos leva a pensar na excelente exposição sobre Alhos Vedros, Passado e Presente, com que um amigo nos brindou, nas comemorações do Foral deste ano. Nesta exposição se referia que o registo escrito mais antigo que se conhece sobre Alhos Vedros, diz o autor, data de meados do século XIII, o que nos permite extrapolar e pensar nesta terra, pelo menos, logo desde o início da formação de Portugal e das contendas entre mouros e cristãos, como são descritas, por exemplo, a partir da conhecida lenda do Domingo de Ramos, bem assinalada que está no livro do Padre Carlos sobre a história local.

Bem, mas o que eu queria dizer era que a dita Exposição, pelo imenso trabalho (trabalho de toda uma vida, decerto) e grande qualidade que revela, merecia ser colocada num espaço museológico que, já agora, não se percebe porque ainda não existe em Alhos Vedros. Olhem, podia ser no Moinho de Maré.


12.
Pelo Alentejo até Olivença

Serviu-me esta ponte Pascal para dar um salto ao Alentejo e à Estremadura Espanhola. Toda aquela parte de Portugal e Espanha separada pelo Guadiana que vem de Elvas até Monsaraz e que vai de Villanueva del Fresno até Olivença, quase a chegar a Badajoz.

Quando vamos em passeio sempre ficamos mais atentos a alguns pormenores do que nos é habitual. Ficamos mais despertos para as pessoas, as paisagens, o património, a gastronomia, as artes. Queremos saber mais sobre a história, os castelos, as igrejas, os museus, as barragens, as pousadas.

E depois, o nosso Alentejo é bonito. Redondo, Vila Viçosa, Borba, Alandroal, Reguengos e Monsaraz, Mourão. Todos lugares singelos, com a sua praça central ou jardim, as estradas ainda calcetadas, os cuidados com a limpeza das ruas, a sua luz típica. Quase todos com o seu castelo altaneiro, a revelar a presença dos antepassados e demonstrando uma identidade que se perde nos tempos.

Sem dúvida, tudo muito mais bonito que do outro lado da fronteira, mesmo sem o desenvolvimento e a capacidade económica que revelam os “nuestros hermanos”, ou até mesmo por isso.

A nota negativa da viagem vai para as pedreiras que envolvem Vila Viçosa e se estendem até Estremoz. O imenso esventramento da terra e a excessiva descaracterização da paisagem, constituem factores que destroem de forma violenta a harmonia alentejana.

É a estranha inevitabilidade do progresso. Mas é também a necessidade de nos precavermos contra alguns interesses particulares que não olham a meios para atingirem os seus fins. Pensemos, por exemplo, na destruição da nossa Serra da Arrábida.


13.
“É Natal, é Natal, viva a Terra em paz...”

Felizmente que nós, os da Língua Portuguesa, temos tido nestes últimos tempos boas razões para comemorar a Paz. Mais do que isso, a Língua Portuguesa, depois de muitos e muitos anos de malfadadas guerras, vive finalmente em paz.

É verdade que, de vez em quando, há umas nuvens negras que teimam em permanecer, como aconteceu, por exemplo, com o apoio à invasão do Iraque dado pelo nosso 1º Ministro. Mas pronto, também no meio de um rebanho, diz-se, há sempre uma ovelha ranhosa, ou dizendo de forma preferível, há sempre uma excepção para que se confirme a regra.

Timor e Angola realizaram, neste capítulo, dois grandiosos acontecimentos, quase milagrosos, de cessação das prolongadas guerras em que estiveram envolvidos. Quem diria que tudo se resolveria em tão curto espaço de tempo.

Pois bem, como aquilo que queremos para nós também desejamos para os outros, este ano no sapatinho vamos pedir que a paz se alargue ao Médio Oriente e que os estrangeiros desocupem as terras que não são suas.


14.
Musidanças IV

No final deste mês vamos ter em Alhos Vedros o IV Festival de Música Lusófona. A Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros (CACAV) aceitou o repto feito pela Associação de Artes BAZA para em conjunto promoverem o evento, dando continuidade a uma iniciativa que se repetirá pelo quarto ano consecutivo.

Numa região como a nossa que se constitui por várias comunidades pertencentes a vários países Lusófonos, será uma boa oportunidade para promovermos o encontro de diferentes modos culturais que por aqui coexistem.

É muito importante que, num mundo cada vez mais globalizado, o que significa também mais misturado por gentes de diferentes culturas, que nós os da lusofonia moitense tracemos novos caminhos que possibilitem a partilha de saberes, desta feita de músicas, que decerto se traduzirão num maior enriquecimento para todos. Será também assim que aprenderemos a viver juntos de forma pacífica, torneando velhos comportamentos xenófobos e racistas que têm sido fontes de indesejáveis conflitos e de ódios paranóicos.

Portanto, mesmo que alguns não queiram, ou não apoiem, sabe-se lá porque egoísta interesse, não poderemos deixar de apoiar esta louvável iniciativa. Até porque como costuma dizer o povo, “Deus não dorme”.


Musidanças V

Como é sabido, no passado mês de Março, decorreu em Alhos Vedros, no moinho de maré do Cais Velho, um Festival de Música que reuniu vários grupos representantes de alguns países que têm a Língua Portuguesa como principal forma de expressão. O “Musidanças”, nome que designa esse acontecimento, iniciou agora a sua 5ª edição na FNAC do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, com um programa riquíssimo que decorre durante este mês de Outubro e, desta vez, juntará músicos, poetas, e escritores, entre outros, tentando melhorar mais ainda o nível desses encontros lusófonos.

Para gáudio do nosso Concelho a representação de Portugal esteve a cargo de dois artistas de Alhos Vedros, o José Beiramar, que foi declamar poemas da “Tory, Uma Cidade com Dois Nomes”, livro publicado pela Marca d’Água, uma editora também da terra, enquanto o José Pereira (Zeca para os amigos) o foi seguindo na pintura, produzindo um quadro de belo efeito. A acompanhar os dois esteve o António Pinheiro da Silva que com a sua flauta mágica e algumas prévias gravações de muito bom gosto, acabou por preencher a ambiência musical da sala. O resultado final, mais uma vez, foi magnífico e tudo resultou em pleno.

Alhos Vedros tem dado, ao longo dos anos, uma boa contribuição para uma certa riqueza cultural que caracteriza o nosso Concelho. Parece até ser opinião generalizada que nestas coisas da dinamização cultural e artística, Alhos Vedros conhece um movimento ímpar que não tem paralelo nas outras terras do Município. E o que mais impressiona é que esta riqueza que brota na terra, se faz mesmo sem espaços culturais condignos que a existirem, decerto, permitiriam uma maior consolidação desta dinâmica cultural que muito útil nos poderia ser, tanto ao nível da formação dos indivíduos, como melhorando a expressão da nossa consciência colectiva.

Assim, parece-nos mais do que razoável que se comece a pensar na construção de um Fórum Cultural para Alhos Vedros que seja digno desse nome, e que só pecará por tardio, até pelo abandono a que a vila tem estado sujeita face às políticas de desenvolvimento do Concelho, e até para substituição do velho cinema que, infelizmente, deixámos em tempos ser demolido.


15.
Escola Aberta Agostinho da Silva

Uma amiga de Lisboa enviou um mail, onde me dava conhecimento do programa da Escola Aberta Agostinho da Silva. Sim, dessa que está a ser dinamizada pela Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros. Uma notícia, dizia ela, que lhe tinha sido enviada por um amigo de Cabo Verde que, por sua vez, a tinha recebido do Brasil, mais propriamente da Eng. Margarida Castro que vive no Estado de Minas Gerais. Adivinhem quem tinha enviado a notícia para o Brasil? É verdade, fui eu. É assim hoje o mundo louco da Internet, envia-se um bilhetinho e, rapidamente, ele dá a volta ao mundo.

Temos, então, a funcionar no nosso Concelho uma Escola Aberta que, tal como o nome indica, está aberta à livre participação de todos. Mas não se preocupem, porque quem não vier não tem falta, nem terá de fazer exames, nem provas orais. Também, pelo menos para já, não estão previstos a entrega de diplomas. Existem “aulas” de “Filosofia para Todos”, um Clube do Optimismo, uns “Estudos Gerais”, um Ciclo de História Local e, brevemente, começará a funcionar uma “Comunidade de Leitores” e lições de Língua Portuguesa para estrangeiros. Nada mal.

Ontem (escrevo no dia 8 de Abril), houve uma palestra dada pelo escritor e ensaísta Abdul Cadre, com um tema bastante provocatório que se intitulou, “Nascer e Morrer – Porquê e para quê?”. Sem dogmatismos, como convém a um tema desta natureza, lá foram apresentados um conjunto de testemunhos sobre tão polémico assunto. Foi muito curioso. Deixo, para terminar, um textinho legado pelo autor que embora não tenha uma relação directa com a palestra, nem por isso terá menos interesse:

“Suponho que não apertas a mão a quem consideres um mau carácter.
Então, não apertes a mão a quem advogue a competitividade, porque esta é uma forma ignóbil de violência, a qual pedimos de empréstimo aos lobos e aos chacais. Recusa, pois, todas as formas de violência e toda a competição que não seja puramente desportiva.
Os competitivos de hoje são os salteadores de estrada de ontem.
Competir, como os repetidores apregoam para nos encher os ouvidos, é atropelar os benevolentes e rasteirar os velozes. Não deves esperar que o árbitro te expulse; sai do jogo enquanto é tempo e caminha devagar.
Pensa que bem fora que toda a actividade humana assentasse na entreajuda; que toda a formação profissional apontasse que a partilha é a única meta que importa e o amor a única ferramenta do êxito.”